Se meus olhos são-me a janela, o mundo
Como vi o passado e vejo o que existe
Como veja que sou alegre e que sou triste
Eis o que tenho eu de mais fecundo
Um lúgubre ensaio de notas poucas
Um corpo de uma noite pesada cansada
Que abre as suas janelas o Zéfiro estraga
A sensação mórbida de vida oca
São meus os desventurosos grotões
Até onde elevo eu a minha poesia
E é esta minha profana elegia
De uma vida que para sempre aos rincões
De vala de mundo, quem há de dizer-me
Que por acaso isto que digo meu
Não é só o de mim que já morreu
Ou o que os meus olhos inda julgam ter
É certo que poetas muito fingem
É certo que a poesia lhes é um universo
Fazem da realidade um reverso
Nem sempre querem mostrar o que dizem
Mas quem os meus olhos enganariam?
Quem estes diriam aquilo que não é
Se são tão simples de ver-se, duas Níobes quer
Cada um deles falar o que sentiriam
Por muito menos fez-se noite neste canto
Do mundo que sempre habito
Mas meus olhos vão-me do feio ao bonito
E com eles sou e sou sem espanto
Eustáquio Silva (16/04/2016).
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