Translate

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

A psicologia de William Shakespeare

E lá vou eu no que denomino regresso à psicologia mesma - termo grego que designa conhecimento da alma - a convocar a vossa atenção para a construção psicológica do dramaturgo inglês. Em vários de seus personagens o drama é aguçado pelo elemento psicológico contido nestes. Aos olhos  aristotélicos de Fernando Pessoa, nisto resido a principal qualidade de Pessoa, a saber: ver as coisas com os olhos sentimentais, característica que vejo eu claramente em Dostoiévski e Kafka, por instáncia, e este sentido de conceber o ser humano por detrás da fala comunga da giganteza de Shakespeare em muitas de suas obras, em destaque Macbeth,  Hamlet e Rei Lear, por acções diferentes, em personagens com ángulos diferentes e com densa narrativa com diferenças conceituais profundas. 

É da sonora rejeição hamletiana de ver a verdade suja e podre que circunda-lhe que nasce, por suposto, a recusa psicológica de alguns temas propostos. E é da sensação de desproteção, também presente em Ésquilo ou Sófocles, de um Rei Lear que advém-lhe a deméncia de sentidos, e, por último a histeria lunática da Lady Macbeth concebida por entre estes passos. Já a Nietzsche concebe-se um Shakespeare grandioso justamente por deparar-se com o trágico, o dionisíaco da realidade e debater-se por um desvio, típico como refugo do poeta, do dramaturgo, de criar realidades tranversais cuja função única é a de aliviar o peso cáustico da verdade ou das verdades acerca da vida. 

Seja em que leitura fizermos nós do autor inglês o "ser ou não ser" reflete o instinto por demasia criador de um psicólogo a olhar para seus pacientes e lê-los de forma exclusiva. A grande ousadia consta nestas linhas. A psicologia shakespeariana pressupõe logicamente ruelas, vias, charnecas à saída do indivíduo oprimido. Campo tem-se para falar-se de uma própria concepção do drama e da tragédia humanas. A tragédia do conhecimento das coisas tais como elas são, enquanto aparecem-nos - este é o único ser que concebemos, pois a esséncia é algo tão distante de nossos dedos e sentidos que não toca-nos a existéncia. Cabe-nos o controlo desta realidade pelos fenómenos a corrermos o risco de demasiada parcialidade em nossas paragens. Há o que meter-se em consideração. Fiqueis vós a pensar sobre o tema. É de grande valia. 



Eustáquio Silva (23/02/2016)

Sem comentários:

Enviar um comentário