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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Alexandre, o Grande

Talvez ninguém lembre que não há personagem mais adequada a este blog que Alexandre, o Grande. Um limiar de glória que tornou-o faraó egípcio, filho de Rá e ainda o fez um convite à tragédia. Como em pouco mais de trinta anos alguém ousou chegar ao Olimpo e descer ao Hádes. Um não grego, filho do tão inovador Filipe da Macedónia, que elevou a cultura a teatros gigantescos à beira de penhascos, que ampliavam naturalmente a voz dos atores com suas personas, outro ampliador acústico natural. A acção corria-lhe às veias e trazia-lhe um gosto pelo ouvir as espadas encostarem-se uma a outra. Porém algo fez dela incorporador de culturas cosendo-as ao estilo grego das coisas. 

Ia este da sarissa ao drama e do mundo bélico ao artístico como num passar de penas. Nada fazia-lo temer. Nada trazia-lhe qualquer medo ou receio. Passou por cima da Pérsia, império inimigo dos gregos e atravessou com seus exércitos até os portões da Índia onde teve de regressar e morrer de uma febre misteriosa após ser atingido em batalha. Morreu onde nasceu: a guerrear. Este instinto trágico de saber que viveria pouco  torna-o personagem típico à tragédia e não sei onde estão os dramaturgos, os poetas, os literatos que não viram em sua vida inspiração para arte. A tragédia já é-lhe inerente, própria, qual falta para o seu desenrolar artístico? 

Logo penso eu que há um bloqueio quanto ao personagem, mas se existe não há porquê continuá-lo, pois em benefício desta riqueza de assimilar novas culturas e não querer tesouros à hora da morte, até ser enterrado de mãos ao vento para nada levar à morte, ao julgamento de Anúbis até o passo rumo a perdição que foi regressar de tão longe que foi e retornar depois de tantas perdas e de tantos percalços. Eis uma acção digna de um herói grego como Aquiles em Ilíada. Eis uma acção tão elevada como as de Teseu e outros heróis. A personagem é riquíssima, mas não transbordou em adaptações, não o sei ao certo a razão. Mas espero que diante de sua história melhor contada incite a alguns escrever mais e divulgar mais sobre este elevado cidadão macedónio. Que isto venha a ocorrer em breve para suprir, por suposto, a lacuna existente e devida ao desleixar de certos equívocos acerca dele. É preciso realmente condicionar a visão e veremos que há diversos ícones cuja vida daria uma bela tragédia artística e nada foi feito e um destes é justamente Alexandre, o Grande, cujo nome foi temido por muitos homens só o ouvir dizer. Elevou seu nome ao lugar de mito e nada foi-lhe deixado a não ser poucas páginas em livros de história que preocupam-se com tão pouca coisa quanto possamos imaginar. 


Eustáquio Silva (24/02/2016)

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