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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

O trágico na arte: Kurt Cobain.

Talvez não tenhais vós parado a escutar alguma coisa composta por este homem, ou lido algumas de suas letras, mas eu vos digo, sem medo de erros, que deste brotava toda a concepção de tragédia que abater-se-ia por sobre a sua vida. O contacto com a vida fazia mal a esta perturbada psiqué e isto fazia-o não possuir máscaras, que deixariam-no como anestesiado frente aos outros. Exposto e perante toda a dor interna externalizada por suas composições, Kurt Cobain, líder e cantante de Os Nirvana resumia em todo o sentido aquilo que era ser alguém fadado à tragédia, não só pela sua bipolaridade presente (depressão-agressividade) como em sua fragilidade em lidar com o sucesso, com as luzes e com os assobios e outros comportamentos do público. 

A olhos  vistos a banda não era virtuosa, mas estava a passar sempre uma atmosfera de insanidade e verdade que não há dentre outras. A banda que ele era. A banda que tinha a sua característica. Este Cobain não media esforços para fazer sangrar suas letras e cifras. Rimava, por suposto, desamor e dor, a falar em diferente de Caetano Veloso. E isto causa-me até um espanto incomensurável. Por quanto tempo aguentar-se-ia vivo? A quanto da vida a sua dor aguentaria? Nós hoje o sabemos, foi muito pouco, e não tinha como vingar mais. 

Talvez ao falar de Alexandre, no post anterior, eu tenha em mente falar-vos em continuação deste cantante. Há entre os dois uma tragédia em voga, porém a tragédia deste cá é bem maior, pois o último acto de seu drama foi um impulso de destruição irreversível. Mas ante a dor de sua existéncia, já que este cantou canções como rape me (estupre-me), lithium, entre outras, que denunciavam em suas notas o desespero de alguém sem chão, sem alicerce, cuja vida estava em um fio ténue que não fez outralgo que não romper-se. 

Em vós não precisa estar a vontade de ouvi-lo ou o gosto por sua música, mas penseis, ao menos, em analisá-lo pelo que significou a ele o seu grito, o seu pedido de socorro, a sua pálida forma de denunciar que lá com ele doía e que não estava a suportar mais tamanho cataclismo. Logo a esta óptica, vós ireis identificar qual era a parcela de tragédia que costumavam colocar-se por detrás da agressividade, de cada palavra pain a ser gritada que o justificam por estas paragens. Não é fácil conter tamanho risco à vida e pela vida. Cá está um exemplo claro de que, muitas vezes, não estamos a controlar a nossa própria nau. E quando isto ocorre o pior costuma ocorrer. Eis o exemplo notório disto. Se há quem desconfio, pois vejam então o tamanho da solidão que este mirar ocultam e o quão longa foi a sua pequena vida. 

Não é difícil colocarmo-nos acima de bem e mal e julgarmos tal actitude como insana e pueril, mas um pouco de tragédia em vossa mirada veriam que não costuma estar na razão tais impulsos e é um erro condenarmos nós mesmos ao apolíneo todo o tempo. Em nós carregamos muito de trevas e por isto somos condenados por pequenos actos com consequéncia tão grandiosa. Em suma cá estão as minhas razões de admoestá-los: vocês podem não ter razão desta vez... 


Eustáquio Silva (24/02/2016)

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