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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

O trágico e Vincent Van Gogh

Poucos artistas reuniram tão bem a tragédia quanto Vincent Van Gogh. Holandês e fortemente influenciado pela Belle époque de culto impressionista, este não coube ao impressionismo e fez-se, por suposto, um mestre do expressionismo, da expressão pura e da condição trágica que foi o enamorar-se da loucura e da insanidade toda a sua vida. Longas são as formas de ligá-lo a perturbações que fizeram-no mais um artista em constante sofrimento que qualquer algo diferente. Não intento, por hora, falar-lhe da biografia, apenas, e sobretudo, trazer-lhe esta relação com o recanto da tragédia que permeou toda a sua vida. Ao lado tendências ainda impressionistas influencias a sua caveira com um cigarro aceso de 1886, ainda em sua juventude (já que nasceu em 1853 em Holanda) o que foi-se a rumar para um pintor que plasmava a sua loucura dentro de uma tragédia anunciada e cada vez mais presente em sua obra. Eis Vincent Van Gogh em sua fase inicial e já com temática própria que orientou toda a sua vida artística posterior. Cabe salientar-vos que a tragédia está em sua arte, ou seja espelha uma criacção perturbadora condizente com vários elementos incríveis de seu génio. Caso queiram saber mais a fundo a sua vida não faltam fontes e estudos. Porém a sua arte também confunde-se a sua vida. E isto é notório nesta fase em sua juventude e no decorrer do tempo, para quem começou aos 15 anos de idade a lidar com arte em cidade holandesa de Haia, em seu primeiro trabalho, daí o interesse crescente por como expressar, em vez de imprimir coloração artística à sua forma de ver ao mundo. 

Esta outra pintura já demonstra os campos em cores mais quentes e em distorções próprias de sua maturidade. Tal qual um esquizofrénico a pintar um gato, enquanto move-se a doença em estágios superiores, cada vez o gato perde contornos e antevê o excêntrico em sua fisionomia, Van Gogh também retira de cena a nitidez e procura a tragédia nas cores, no traço rabiscado e a arte transforma-se em visão denunciadora de intensidade e insanidade. Cabe cá vê o prenúncio da tragédia. A sua face mais desconfortante. O elemento artístico tipicamente apolínea constrói-se enquanto mar de incertezas e de incomensuráveis polémicas. Eis o dionisíaco que culminou em decepar-se de suas orelhas. Eis o prenúncio de um desequilíbrio cada vez mais eminente. 




Termino o meu giro por imagens a mostrar a substituição das cores frias, típicas do impressionismo pelas cores quentes, típicas do expressionismo. Neste quadro a transição causa-nos um contraste. O frio e o quente em uma mesma pintura. Cabe-nos desacelerar a visão ou acumular-lhe uma senda mais presente. Eis o condicionamento mais próprio da arte. Viver entre histórias e entre concepções próprias. Viver entre a falta e a coloração das coisas. Eis o predomínio do vivo e morto, do vivente e do que está a morrer numa mesma tela. A arte de Van Gogh fala da transição rumo à loucura, que é, ao artista, a pior das tragédias. O elemento deflagrador de um período vazio de si e pleno de arte. O abismo de criar ante o precipício do perder-se. Q'ria eu que pudéssemos nós todos construir uma ponte entre a pintura da caveira e a pintura destas flores. A distáncia do elemento requintado do introspectivo para a perspetiva gritada do extrovertido, do vomitado, do que está a descer e escorrer pela tela. Eis a principal característica do Van Gogh homem da arte, um homem que jamais aquietou-se num apolíneo e que desceu ao infernal e tenebroso universo dionisíaco. Mais um dos que vêm a este blog para compor a série trágica iniciada por Alexandre, o Grande. Vejais ó vós que as linhas são pouco delineadas no tempo. Eis aquilo que quero-vos passar. O tempo é movimento frenético e dissolvido em personagens, elástico que aponta a cada vez a uma direção diferente e em várias formas de arte. Careço-vos de explicar a presente de Van Gogh? Creio que a tragicidade de sua vida fala por este e denuncia toda a sua compleição ao assimétrico, ao distante de forma e eivado de conteúdo. 


Eustáquio Silva (25/02/2016)

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