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quinta-feira, 7 de abril de 2016

Como há romantismo em cada literatura

Normalmente é de pensar-se o porquê de o romantismo ser a expressão mais duradoura da literatura em vários países ou a mais presente, mesmo que não em estilo e forma, mais em traducção do que seja poesia e prosa em mundo. Esta acção romántica forte dá-se sob a custódia de uma direcção assumida contida na palavra romantic que quer dizer, naquilo de mais amplo, o que é da imaginação, quem firma-se pela emoção e pela criactividade. Quem não definiria um poeta, a exemplo, destarte? Eis aí a força do impulso do conatus romántico. 

Se é certo que o poeta é um imaginador, um ser da criacção e da elaboração extraída da realidade e se é verdade, como penso ser, que o impetuoso e sensível advém ao racional e métrico ou simétrico, logo primeiro vem Dioniso para que surja Apolo, e nisto está todo conflito do poeta em ser sempre algo entre estes dois extremos, da ribeira romántica à cimeira formalista o literato é, por natureza, um elemento que vibra, a tomar de empréstimo uma expressão de Heidegger, entre o totalmente incomum e o absolutamente ontológico, criador. 

Neste ponto, a descer do Olimpo as palavras, todo poeta é um romántico que faz-se por estilo de verso desta ou daquela escola a ser o romantismo não uma escola, mas uma pressuposição poética. O romance firmou-se como género de escrita, mesmo em crise actualmente, género literário e por ponto próprio de afirmacção todo poeta é um ser que sente dor já dizia Fernando Pessoa, mesmo que a dor que sinta seja expressão poética, seja fingir que sente para que possa melhor ser lido. Nisto em absoluto é um fazedor romántico de uma realidade. 

A pronta forma poética é o romántico. O romance é o equivalente prosístico e estético ao poema imaginativo, lírico, profundamente presente num ironista como Oscar Wilde do De Profundis ou no realismo de Machado de Assis ao falar de o que há de romance no casmurro Bentinho e sua musa. Há romantismo, inclusive, a ler-se a tragédia anterior - transformada em drama - e eivada de sentimento pelo romántico inglês ou pré-romántico inglês William Shakespeare - e nisto até as musas árcades e os galanteios, a cantata lírica grega, tudo isto é cheio deste romantic que aludo em bocado acima do texto. 

Romántico é, acima de tudo, aquele que propõe-se aos versos e às letras de modo geral. Eis a questão. 
É isto que quer dizer o título desta provocacção, este acinte a qualquer doutrinador que não goste dos exacerbos do romantismo (escola literária, numa divisão didáctica e não cronológica) enquanto fortuna de verbo literário. Não tomeis vós por uma provocacção que vise o perder-se em querelas e em quezílias desnecessárias, mas apenas como uma acção que provoque discussão e que atraia a atenção que pode ser o romantismo ser ampliado e usado como luneta a ver toda a literatura de antes e depois de este como escola. Já pensastes nisto? 


Eustáquio Silva (07/04/2016).

2 comentários:

  1. Provavelmente se o pensastes, nada em vós atentou para que chamar de romántico aquilo que transcenda a simples narrativa fria, ao simples escrever de formalismo académico, nutre uma condicção à escrita provinda do próprio eu humano que quer-se dizer e não repartir-se em pedaços que não se possam juntar em algum momento. A arte do romántico cá é o elaborar e o impregnar a tudo com a sua forma de lidar consigo. Nada há de tão forte em sua escrita. Em seu texto, em sua companhia. Eis o que quero passar-vos, quero eu, não sei se posso, pois ao romántico a entrega é feita, porém não sabe-se se é bem recebida.

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  2. É nisto que escolho chamar a romántico todo poeta, todo prosista, todo fazedor de textos que tenham algum sentimento e não sejam meras compilações de palavras.

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