Translate

terça-feira, 19 de abril de 2016

O romantismo não é derivado de Rousseau

Quais são as principais e mais conectadas ideias que tem-se daqui afora sobre o romantismo - inclusive sedimentadas no mundo afora? 

- O romantismo é uma cisão ao arcadismo em sua essência de remissão ao clássico e em sua índole revolucionária francesa. 
- O romantismo tem no franco-suíço J.J. Rousseau seu elemento teórico-técnico de existência. 

Denego aos dois. 

Rousseau foi sim uma reacção ao iluminismo francês e ao liberalismo inglês. Concebeu as luzes como elemento estranho ao seu filosofar. Há-de lembrar-se, se me permite o leitor, que sua concepção de natureza corruptora de um "bom selvagem" é a mais deturpada de todas as interpretações e 90% de suas explicações académicas são-me ineptas. Rousseau é bem a calhar com um espectro de coisas pouco fixe e pouco correcto e justifica várias teorias dictas democráticas. Ao falar do povo em emanado do povo todos erram ao interpretar com prejuízo à palavra "emanar", visto que emanar cá não é que permaneça, mas que tem fundamento e nem significa que cabe ao povo exercê-lo, em pensamento do pensador francófono. 

Quando à literatura nada mais irrelevante pensar que alguém com o texto de "bom selvagem" fosse inspiração filosófica ao romantismo, mesmo ao de primeira fase. Talvez tenha-se ao Brasil, por exemplo, exceção destacada. Pero ao movimento conflituoso do romántico, seus vícios internos, seus rompantes, seu ímpeto, seu gosto à morte. Todos ingredientes de um poetar não rousseauniano. Não há dúvidas, ao menos a mim, de que Rousseau não tem efectiva participação na construção romántica. Não parte dele causar esta cisão com o clássico, pois tem muito de clássico em este. Não é ele o principal responsável pela liberdade criactiva e pela profusão temática do romántico. 

Digam o que disserem não vejo-o assim. Não é a este Rousseau que li. Pois ao seu atento ponto de equilíbrio teórico Rousseau não é um autor de novidade, mas de ruptura com as luzes, e isto por si só demonstra que este paira num canto à realidade que não o de idealizador da novidade, apesar de ter-se colocado como ideólogo de revoluções, ele não tem o ADN ou não atinge a cimeira do romantismo por absoluta insuficiência de seu pensamento frente à grandeza do movimento literário e filosófico que vê bem mais em Herder e Goethe, em Voltaire e outros, vasos a sua planta nascida. 


Eustáquio Silva (19/04/2016).

Sem comentários:

Enviar um comentário