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quinta-feira, 14 de abril de 2016

Sto. Agostinho e a Estética do Tempo

Mesmo que não seja adepto de credo algum em termos de existência, quero eu demonstrar cá em minha Chávena de mundo o quão profunda é a forma e a beleza da filosofia de Santo Agostinho, Bispo de Hipona, e o quanto a sua reflexão relativa ao tempo cobre-me de deleites em leituras. 

Abaixo cito-o  in literis a vós, ó meus leitores e frequentadores desta Chávena:

Que é, pois, o tempo? Quem poderá explicar facilmente e com brevidade? Quem poderá apreendê-lo, mesmo com o pensamento, para proferir uma palavra acerca dele? Que realidade mais familiar e conhecida do que o tempo evocamos em nossa conversação? E quando falamos dele, sem dúvida compreendemos, e também compreendemos, quando ouvimos falar dele. O que é, pois, o tempo? Se ninguém mo pergunta, sei o que é, mas se quero explicá-lo a quem mo pergunta, não sei: no entanto, digo com segurança que sei que, se nada passasse, não existiria o tempo passado e, se nada adviesse, não existiria tempo futuro, e, se nada existisse, não existiria tempo presente. De que modo existem, pois, estes dois tempos, o passado e o futuro, uma vez que, por um lado, o passado já não existe, por outro, o futuro ainda não existe? Quanto ao presente, se fosse sempre presente, e não passasse ao passado, como é que dizemos que existe também este, cuja causa de existir é aquela porque não existirá, ou seja, não podemos dizer com verdade que o tempo existe senão porque ele tende para não existir (...) (Confissões, Livro XI). 

Que fabulosa elucubração sobre o tempo! Ao tempo que indaga por uma coisa que cerca-nos, e interessa directamente à poesia, faz isto com a subtileza de um grande poeta. Ao decorrer do texto Agostinho responde as inquirições que o trecho de seu texto faz. Assim o faz de acordo com as suas confissões e como este assunto interessa ao romantismo em directo, não poderia deixar de estar aqui e de inspirar a nós de que o passado, o futuro e o presente são formas cabais de um mundo vívido de certezas e de seguranças. 
Mas o que mais queria eu falar-vos é desta maneira de conceber esteticamente ao tempo. Cá estética não é ao que cabe o culto à beleza, mas a experiência, o que diz o vocábulo grego aesthesis em todo seu sentido mais forte e firme. Por isto cabe sim uma admiração ao Bispo de Hipona por sua imensa sabedoria e por sua infinda condicção de ver questões complexas e forma tão agradável e prazerosa. Eis o que a mim é e tem sido as Confissões deste poeta da filosofia. 


Eustáquio Silva (14/04/2016).

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