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quarta-feira, 23 de março de 2016

Béligca: a face sem arte do poder


Numa guerra não há vencedores, só vencidos. 
Francisco Goya 


Um dia, certo dia, o génio Aristóteles referiu-se à política como arte. A famosa Ars Politica seria uma técnica racional de que homens iriam à praça pública deliberar sobre assuntos concernentes à sua vida, ora pois, e questões de entrada ou não em guerra. Atenas quis, junto a outras cidades gregas, evoluir a tal ponto de colocar ao animal humano uma coisa que não é sua: a liberdade. Liberdade é horizonte e não componente. Liberdade faz-se e não acontece. Mas o enorme pensador da Macedónia nada disto perceber e pôs a guardar elementos de total angústia frente aos que faziam com a guerra. Gregos sabiam guerrear a ponto de Churchill, clássico premier británico, firmar a palavra em que são os heróis que pelejam como gregos e não o contrário. Se hoje os dois vivessem arrepender-se-iam das palavras. 

A guerra é reductível  em sangue. Faz um molho de cadáveres e escoa o que há de pior, o chorume da realidade a contaminar o ideal e a acção de tantos. Mais um exemplo foi o atentado em Bruxelas que fez belgas amanhecerem mortos e tantos outros feridos. A insensatez da guerra, como bem disse um cronista português, que chama-se António Bargão Félix, do conceituado jornal português o Público - a mim o melhor em língua portuguesa -, ultrapassa os limites do bom senso, de qualquer senso. Para quê? A perguntar não cala-se e não pode calar-se. O justo destas questões é que morre-se. Pessoas que iam a um café saciar a sua forme não regressam. 

Enquanto grupos terroristas existirem irá existir não uma cruzada religiosa, mas um plano de conquistar o poder. De destruir civilizações inteiras. De fazer-se a sangue o outro de refém ou convertê-lo à força. O resultado é um mundo com medo, com receio de abrir as portas para tudo e todos. O insensato venceu ao sensato. O mundo abriga melhor a quem comete-lhe crimes. São protegidos. E isto chamusca em tudo que possa-se pensar de mundo. Eu, em particular concepção, posso dizer que o mundo é um bando de corpos mortos deitados ao chão, a conter certa dignidade justamente porque são inocentes, mas sem protecção dos estados e a prender-se só inocentes enquanto os verdadeiros culpados caminham livremente por aí. 

 Meus sentimentos, ó Bélgica! 
Meus sentimentos parentes de mortos e feridos e os próprios feridos.


Eustáquio Silva (23/03/2016).  

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