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domingo, 13 de março de 2016

Um conto de Mário de Andrade

Coleção Fronteira - Mário de Andrade
Em primeiro lugar: comprem este livro. Leiam a este livro. Devorem, tal qual o antropofágico a este livro. 
Ele merece ser lido. 

Agora vamos ao conto que precede o discurso das tendências do modernismo. Há de se ter cuidado com a palavra modernismo. Moderno e Novo nem sempre andam de mãos dadas. Escutem quem já está a ler há tempos. 

Lá estava a poesia desnuda, não nua, ou seja, feita sem direito à projectar-se de alguma forma sobre leis e regras. Sem Alexandres e fora de sonetos. Quem a viu assim? Como ela é? Só um, segundo Mário, teria visto a poesia bem como emoção não lapidada e este foi Arthur Rimbaud. Rimbaud fez da poesia um imaginário tal que só ele sentia e via e descobriu séculos de poesia cheia de métrica, regras, estilo para que deixasse-a falar e não só seus modos de expor. 

Mário ainda consagrou a Rimbaud o lugar de poeta inspirador. Aquele miúdo francês que começou a escrever sobre o inferno da existência. Um nato existencialista pessimista. Um trágico. Um desmedido. Um afônico à voz de Apolo. Alguém que jamais conheceu a limites. Este conhecia a poesia justamente por isso. Ah, caros irmãos não olhem a Rimbaud como olha-se a um qualquer. Ele é realmente o que Mário e outros diziam-lhe em passagens marcantes. 

Ademais, e sobretudo, conforme vemos a desnudez da poesia, a esta falta de pudor e de vergonha da poesia só poderia estar alguém com muita sensibilidade. A poética, desde Aristóteles, é arte e o artista é aquele que vê a poesia e depois faz com que os outros a olhem. Como não olhá-la por estes olhos tão vivos e mortos ao mesmo tempo. 

Em breve a passagem do texto que fará com que vocês entendam como Rimbaud conseguiu retirar da poesia toda a forma de véus e adereços estilísticos e fazê-la erupção de emoção. Não tardará. Não irá demorar. 



Eustáquio Silva (13/03/2016).

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