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sábado, 5 de março de 2016

Uma nota sobre a arte

Arte, a meu ver, não é aquilo que chamam de arte, mas aquilo que ela é. Afirmação aristotélica? Talvez. Mas o que perturba-me em questão de arte é justamente o modo como a modernidade conceitua a arte a torná-la tudo que se possa imaginar. 
Exposições de arte mundo afora apenas demonstram excrementos ou uma série de gritos e lá se vai o epíteto arte. Aí reside o perigo. Discordo eu também de que a ideia da arte traduziria a tudo como uma grande questão subjetiva. Arte pode ser perspetiva, mas jamais subjetividade, até porque teríamos nós bilhões de artes e isto não desce-me. 

Já que falei em Aristóteles, eu remeto ao que ele disse da etimologia da palavra arte. Arte em grego advém de tecné que significa técnica. Todo artista, por conseguinte, seria um hábil técnico a fazer de palavras, pedras, sons, tintas algo criado a ser apreciado. Difere do artesão que fabrica. O artista cria. Aqui novamente venho a discordar de Platão: a arte não imita a nada, mesmo quando retracta aquilo que já existe. A arte, em suma, é um tempo diferente, aqui cito Vergílio Ferreira, já que opera enquanto produção de emoções. Notem-me a dizer que a arte produz, cria, e não que a arte é imitação, algo menor e menos importante. Isto tem lá a sua razão de ser. A arte é um epicentro que conforma grandes instintos, impulsos, portanto ela é puro factvm, como nas palavras de Tchaikovsky. 

Haja vista a sua produção e a transpiração que é tecer um poema, um conto, uma sinfonia ou mesmo uma música popular. Arte a meu ver contorna a vida e dá-lhe outro óculos, outra perspetiva. Não uma via auxiliar, mas uma nova rota, uma autoestrada directa  aos sentidos humanos. Esta via, por falta de espaço cá no blog, será explicada em ensaio posterior, no qual irei explorar as várias concepções de arte e exemplares desta, a ser publicado em futuro próximo, mas adianto-vos que eleva-se a um condimento diferente daquele que dão-lhe hoje. A arte tem muitos caminhos, mas não é tudo aquilo que alguém denomina ser arte. Não grita-se: é arte! É preciso reconhecer-se na aparição emocional, mais uma vez a ser vergiliano. É preciso que a obra de arte transmita sentimento e desperte sensações para que seja arte, e aí não importa origem, tão-pouco explicação. Arte explicável e explicada não parece-me arte, mas sim artesanato. Não conformo-me, sobretudo não aceito, que alguém venha-me com excrementos enlatados e exponha como uma vernissage a dizer que cá está a hibridez da arte. Soa-me insano. 

Portanto, caros leitores, a arte convoca-nos a mais reflexões e a resposta à pergunta sobre sua natureza não é rematada para uma forma conceitual, nem semiótica pura. A arte é uma produção costumeiramente forte, advém de uma treva - e não de um nada - e passa a existir suficientemente forte a tanto. 
Eis o segredo de minha nota acerca da arte, em seus trilhos, para a sua foz e que dá-me litros de reflexão. Quem sabe a vossa não poderá ser-me elemento de enriquecimento! Tentemos! Caso queirais vós é só deixar um comentário ou mesmo procurar-me virtual ou pessoalmente. 



Eustáquio Silva (05/03/2016)

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