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domingo, 6 de março de 2016

Opinar não é interpretar

Adentro eu ao mundo da filosofia da linguagem, da literatura, da escrita em geral a dizer aquilo que deveria ser conhecimento prévio a todos que pretendem-se escritores, intérpretes, comunicadores de sucesso: digo-vos em tom solene que opinar, emitir vossa opinião acerca de algo, não significa interpretar, isto é, trazer à luz um esclarecimento e tornar a mensagem de um texto primário clara ao leitor. 

Opinar é algo bem simples. Sobre determinado texto ou autor, o escritor debruça-se a tecer comentários subjetivos e pode fazer uso do tema "eu penso", "eu acho", "parece-me", "é-me apropriado" e o resultado é um conjunto de pareceres sobre o assunto. Não há nada além de juízos de valores, coisas oriundas da vivência de cada pessoa em relação àquilo que intentam comentar. Eu penso que a obra de Vivaldi, cuja introdução fiz em post anterior, é boa, isto não é, de forma alguma, interpretar. 

A interpretação advém da hermenêutica e carece de uma explicação breve, porém necessário. Hermenêutica vem do verbo grego hermenein que quer dizer interpretar não a coisas apenas, mas sentidos, textos completos. A mitologia pagã grega traz-nos o deus Hermes, o mesmo da palavra, como aquele que habita ao Olimpo e desce ao mundo a traduzir a vontade dos deuses. Hermes sabe os dois idiomas, as duas formas de pensar e só aferra-se a trazer o dicto de um a outro e vai lá um trabalho daqueles, um molho de coisas a fazer. 

Interpretar, por isto, também é traduzir, compor de forma verossímil aquilo que está em outro contexto sob outra forma. Não é possível precisar o quanto de tradução é possível fazer-se de "well" a "bem", de "bild" até "figura" e assim por diante. Porém aquele que coloca-se ante textos complexos a tentar clareá-los a compreensão é um hermeneuta. Percebei ó vós que interpretar pode ser também compreender de determinada forma. Considerar por certa perspetiva e nisto interpretações substitui o seu relacto anterior de interpretação. 

A curiosa menção de alguém a que opinar é interpretar, soa não só estranha, mas extremamente inábil. A levar-se em conta que há um trabalho em interpretar que inexiste em expressar o que se pensa, logo parece inócua qualquer tipo de comparação de pontos (comparar também adentra ao interpretar, como uma parte de seu trabalho) entre os dois verbos, entre as duas acções. Haveria muito mais a falar-se mais o texto tornar-se-ia demasiado grande a tanto. Portanto fiquemos à promessa de exemplificarmos em outra oportunidade acerca disto. 


Eustáquio Silva (06/03/2016)

1 comentário:

  1. E como é um campo que merece ser melhor visto. A Hermenêutica como área de estudos está eivada de achismos em todos os campos, pois a divisão por hora feita cá é ignorada. Isto suprime qualquer vontade que tenha eu de pensar em algo que faça sentido a mim! Mas sigo o meu intento de fazê-los cientes e ciosos desta divisão. É primordial!

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